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De um extremo ao outro na educação dos filhos

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Quem não se lembra daquele olhar da figura paterna que nos fazia estremecer? Antigamente os responsáveis pelas crianças prezavam pela autoridade, mais do que a própria vida, pois isto era motivo de honra. Dialogo não existia, pois o que os pais falavam estava falado. Pedir desculpas a um filho, jamais; pois seria sinônimo de fraqueza, o que fortaleceria a desonra. O bom filho seria aquele que tudo aceita, tudo espera e nada questiona.
Contudo vemos nos dias de hoje o oposto disso. Pais que perderam totalmente a autoridade com o seu filho e assim o quiseram em nome de uma “amizade” que busca amortecer as realidades relacionais encontradas no dia a dia. O que me faz querer refletir com vocês é o fato que fomos de um extremo ao outro, de uma rigidez imensa a uma liberalização tremenda, aonde filho chega a mandar o pai calar a boca e até mesmo matá-lo se lhe aprouver. Isso me dá um profundo sentimento de orfandade e acredito que é assim que nossas crianças se sentem, pois não oferecemos um contorno a elas, não indicamos até onde ela pode ir. Deixamo-las a mercê de suas imaturidades, o que gera uma grande insegurança. Hoje temos visto muitas crianças inseguras, algumas retraídas em excesso, outras dadas demais, justamente por conta do contorno, dos limites que as falta.
Mas o que significa dar contorno, dar limite? Significa estar disponível a criança, não no sentido cronológico, mas emocional, apresentando a ela os seus direitos e os seus deveres por meio de confirmá-la, ou seja, aceitando-a do jeito que ela é, o que entraria no seu direito, e, apresentando as fronteiras que precisam ser respeitadas entre ela, o outro e o mundo, os seus deveres. Assim, teremos crianças mais seguras e felizes, pois serão aceitas pelo que são, no sentido de não ser o ideal que os seus pais queriam, e ao mesmo tempo saberão que tem alguém por elas para indicá-las o caminho, para dizer que não pode quando ela achar que é o melhor e para dizer para prosseguir mesmo que esteja com medo.

Os filhos precisam de pais e não de amigos

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Não foram poucas as vezes que eu escutei de alguns pais que eles não entendiam o porquê do comportamento de seu filho, pois sempre se colocavam a disposição de ser seu melhor amigo. Disposto a ouvi-lo e a acompanhá-lo.
Eu quero refletir com você sobre o que um filho precisa e o quanto sofre com essa situação.
Primeiramente penso que os filhos precisam de pais e não de amigos, pois eles os têm na escola, na vizinhança, na família. E com eles se realizam por meio do brincar, rir, falar bobeira, contar segredos, saírem juntos. Contudo uma coisa eles não encontrarão nesses amigos: a base, a estrutura, a segurança que eles precisam para continuar o seu processo de desenvolvimento. Com os amigos, verdadeiramente, é só curtição. É a parte boa do viver. Por mais que um amigo os veja triste, chorando, será apenas um momento que logo passará.
À medida que os pais perderam a consciência da sua responsabilidade pela saúde existencial, emocional de seus filhos, e que depende deles a estrutura, o contorno, limites a ser dado a essas crianças, começaram a desconhecer o papel que lhes cabe, por isso hoje temos visto filhos que assumiram o papel de seus pais e estes o de seus filhos. Assim muitas vezes ocorre um esvaziamento da figura paterna e materna para um inflar a figura do amigo.
As crianças e os adolescentes vêm sofrendo o que eu chamo de síndrome da orfandade de pais vivos, pois sofrem muito, sentem-se sós e inseguros ao terem que sobreviver como podem e assentarem-se em papéis que não são seus.
Nossas crias precisam de amor e limites para sentirem-se seguras. Sendo assim, a cumplicidade e o companheirismo será conseqüência da relação funcional entre pais e filhos. Quanto à amizade, deixemos para os seus pares.